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Pra doido ler

sábado, outubro 20, 2007

Breves divagações sobre figuras de linguagem

Eu falando quase tudo (e não tudo) = elipse.

Homens confusos = pleonasmo.

Penso e lembro e quero e sinto saudade e de vez em quando até choro = polissíndeto.

Saudade, me conformei em ter = inversão.

O desejo que mora em mim, ele é que preciso enfrentar = anacoluto.

No fundo, eu acho que todas as mulheres fazemos isso = silepse.

Tum, tum, tum. Meu coração não sossega = onomatopéia.

Mas é tudo, tudo, tudo, tudo bem leve = repetição.

Mesmo assim, ontem à noite, a tristeza e a alegria sentaram na minha sala e assistiram juntas ao filme que não conseguimos acabar de ver = antítese.

Quando me dei conta, sorri e mandei a minha dor desta para melhor = eufemismo.

E vi que o que eu queria era você perto, do lado, grudado, dentro = gradação.

Era tudo o que eu mais queria. Se eu pudesse, era tudo... = reticência.

Alguém sussurrou no meu ouvido que o mês vai durar um século = hipérbole.

E que eu não vou sentir a menor falta = ironia.

Já a lua olhou pra mim e disse que ela era a mesma em qualquer lugar = personificação.

O consolo é que essa falta que chega, aliás que mora em mim, já virou minha amiga = retificação.

quinta-feira, outubro 11, 2007

O filho dele, o filho dela [ou Uma conversa contemporânea]



Ele: Eu quero um filho. Agora. Nove meses é muito tempo.

Ela: Uia!

Ele: E quero também um Chevete amarelo.

Ela: Filho é pra sempre demais. O Chevete não é mais fácil?

Ele: Mas eu quero um filho. Agora. Hoje.

Ela: Calma. E ela também quer?

Ele: Não. E isso é uma bosta.

Ela: Hummmmmm... Ah, espera. Filho é pra sempre demais mesmo. Vai ver ela precisa de um tempo. Hoje em dia, morro de medo. Porque é pra sempre. E já foi a coisa que mais quis no mundo.

Ele: Tatuagem também é pra sempre. E tem gente que faz.

Ela: Mas a tatuagem é só minha. Meu medo do pra sempre é a outra pessoa envolvida. Só passei a acreditar no Renato Russo depois de velha. "O pra sempre sempre acaba". Mas filho não. O pai dele pode virar meu ex, mas ex-pai não existe.

Ele: Existe ex-pai, sim. Existe ex tudo. Eu, por exemplo, sou só um ex-eu!

Ela: Ah, o pai vai ser sempre o pai. Fico agoniada, mas eu vou ter. Um dia, vou ter. Já tem até nome.

Ele: Riba!

Ela: Riba é roots. Maranhão na veia. Mas eu sou bem pouco roots.

Ele: Riba é roots. Riba é mar. Ribamar!

Ela: Coloca Riba no menino e Mar na menina. Mar é uma palavra masculina, mas não tem problema, não.

Ele: Boa!

quarta-feira, outubro 10, 2007

São Paulo, 30 graus


Devia ser proibido tanto calor em uma cidade sem praia.

Eu quero correr pro mar.

Três em um

Primeiro disse que achava lindo homem descalço.

Depois contou que até tentava, mas não conseguia resistir a um homem chorando.

Por fim, falou que achava um charme homem fumando.

- Ah, você gosta é de homem!!

- É. Gosto. Mas normal, né?

- É?

- É. Só não poderei nunca ver o mesmo homem chorando, fumando e descalço.

Riram muito. Claro.

domingo, outubro 07, 2007

Combustível


sábado, outubro 06, 2007

Viagem das mãos


Era uma mão em cima da outra. E era assim mesmo, exatamente como se fosse você em cima de mim. Ou eu em cima de você. O que daria no mesmo. Ou quase. Em cima ou embaixo, era bem perto. E esse verbo irritantemente pronunciado no passado não é capaz de fazer com que a imagem de uma mão em cima da outra pareça algo distante.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Ciclo da saudade (ou A mão)

Durmo cheirando perfume
Sonho com as asas de um anjo
E acordo pensando na mão.

Grudada na minha perna,
Como se numa foto,
A mão fica o dia todo...

Até que chega a tal hora
De cheirar perfume de novo
E de sonhar com mais anjos.

Para, no dia seguinte, acordar com a mão já grudada em mim.

O Rolex roubado do Huck e meu orgulhozinho conterrâneo

Roubaram o Rolex do Luciano Huck em um farol do Itaim. Eu, até hoje de manhã, sequer sabia. Depois que soube, minha vida não mudou em nada.

Só mudou quando senti um orgulhozinho bom de Zeca Baleiro, que escreveu hoje para a Folha de São Paulo, comentando a carta indignada do Huck.

Painel do Leitor - Folha de São Paulo de hoje

"A nossa elite (se é que merece ser assim chamada) é mesmo patética. Só mostra indignação com a situação do país quando tem o seu Rolex roubado.
Queria ver Luciano Huck escrevendo um texto tão indignado caso presenciasse uma chacina no Capão Redondo."

Zeca Baleiro, músico (São Paulo, SP)