Um tango, um cigarro e uma dose de conhaque

Passara dias pensando que, na sua vida, essa seria uma combinação fatal.

Dançou o último tango. Estava só. Não estava em Paris.

Fez da dose de conhaque seu parceiro sem pernas que conduzia seus saltinhos certeiros no ar. O cigarro queimava livre na outra mão.

Não escreveu nenhuma carta de despedida. Apenas disse, em um bilhete que deixou em cima da mesa de fórmica lilás, que dedicava aquela última cena da sua vida a Almodóvar.

Passara dias pensando que, na sua vida, essa seria uma combinação fatal.

E foi.

Carta para Pedro e Clarisse [ou Por ora, uma despedida]

Aqui.

Pré-emoção

Daqui a vinte dias eu vou ver a Fernanda Montenegro. Praticamente só penso nisso desde de manhã cedo, quando coloquei o ingresso na mão. Mas a vida não é só isso e, de ontem para hoje, teve mais felicidade. Só para combinar com essa pré-emoção. Só porque a gente está aqui é para ser feliz mesmo. E eis que ganhei um presente lindo de Dia das Mães. Mesmo sem ser mãe. Achei tão bonito isso! Fiquei boba. Achei bonito mesmo. E hoje caminhei pela Paulista olhando para cima. Não, eu nem caí. E, se isso parece banal para você, para mim é uma das melhores coisas da vida. Caminhar pela Paulista me lembra toda hora que eu sou a pessoa responsável por cuidar de mim [no meio da selva], me lembra também que eu cresci [e que isso é bom], que a cidade é imensa [a maior] e que eu estou perto de onde as coisas acontecem. Daqui a vinte dias eu vou ver a Fernanda Montenegro. E eu tenho tanto respeito por ela que, só de pensar nesse dia, eu sorrio sozinha, para a tela do computador.