Toda arrumadinha e cheirosa, ela teria chegado hoje aos 85. Eu a vejo linda, vaidosa, laquê nos cabelos, unhas pintadas com aquele esmalte fosco alaranjado. Hoje ela usaria um colar bonito e colocaria um "conjunto" de saia e blusa estampado. O sapato ia combinar com a roupa. Antes disso teria ido à missa. Mais cedo ainda, ao salão. Faria um jantar para a família, chamaria os sobrinhos. Todos falariam ao mesmo tempo durante o jantar e, quase na hora do parabéns, mesmo com a mesa lotada, ela ia lembrar que mais um prato ficou no forno e não foi servido. Ao ouvir a cantoria dos parabéns, ela sorriria e sairia assim nas fotos: sorrindo e falando. Diria "chega de fotos", mas, como boa leonina, diria isso querendo mais. E falaria também, a cada flash, que o cachê dela era alto. Colocaria eu e minhas irmãs no colo, mas só teria olhos para Amandinha "Fofoletinha, vem cá dar um beijo na bisa".
Toda arrumadinha e linda, ela chegou aos 85. Porque nunca se foi. Porque, só por eu existir e estar aqui com o pensamento nela, vovó Cita é a dona única do dia de hoje.