Pequeno dicionário amoroso
Acordou com superpoderes. Demorou a perceber, mas, quando entendeu, gostou da brincadeira.
Acordou e tinha a capacidade de trocar os nomes das coisas. De todas as coisas do mundo. Bastou falar uma vez que isso é aquilo e que aquele é esse, e o mundo inteiro saiu repetindo a nova verdade. Ninguém contestou e brincar daquilo virou um vício.
E ela saiu brincando com as palavras, como quem brinca na infância. Como quem brinca sem saber como vai ser a vida depois.
Casa passou a ser vento. Vento passou a ser sol. Sol passou a ser lápis. Lápis passou a ser chuveiro. Chuveiro passou a ser lua. Lua passou a ser beijo. Beijo passou a ser paz. Riscou a palavra ódio do dicionário, daquele dicionário que agora era regido por ela. Deixou para pensar em mágoa depois.
Depois, quando já estava prestes a cansar da brincadeira, decidiu que tudo aquilo que para ela representava amor passaria a se chamar loucura. E aí, finalmente, ela e o mundo inteiro falariam a mesma língua.
1 Comments:
Jesus Cristo Alá Padim Ciço.
Fê, que lindo!
Queria poder guardar isso pra sempre dentro da minha cabeça!
Beijo!
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