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Pra doido ler

quinta-feira, julho 13, 2006

O menino de seis anos




Na peça “A vida é cheia de som e fúria”, que eu já assisti três vezes, uma parte me tocou muito. E hoje eu acho que eu entendi melhor por quê.
É quando o personagem exibe uma foto gigante de Paul McCartney criança e fala sobre essa sensação estranha que temos quando vemos fotos de crianças – e, no caso, somos ou conhecemos o adulto na qual a criança da foto se transformou.
Ao parar e ver aquele rostinho inocente, a gente sempre tem um pensamento que mistura culpa (eu me transformei exatamente no que esse carinha queria que eu me transformasse?), melancolia (eu era feliz e não sabia) e um pouco de vergonha (ei, eu não me transformei mesmo naquilo que você queria, né?).
Hoje o meu dia foi tomado por uma melancolia enorme, quando me vi diante do menino de seis anos. Eu percebi que talvez eu o ame muito mais do que o adulto no qual ele se transformou. Porque, de repente, eu vi que no menino eu confio. E só nele.
O problema é que eu não posso dizer isso para o menino. Não posso pegar na sua mãozinha pequena e levá-lo para passear. Não posso dizer o quanto o amo e o quanto ele sempre foi importante para mim. Não posso brincar com ele e nem arrancar dele aquelas risadinhas gostosas, que só as crianças têm.
Eu não posso. E dali, daquela foto repleta de impossibilidades, nasceu a minha mais profunda tristeza.

2 Comments:

At 10:24 PM, Blogger Aurora Combs said...

Ohn Fê...

 
At 11:37 AM, Anonymous Anônimo said...

Fernanda...
Esta é uma das mais puras e sinceras verdades que já li.
Também tenho esta sensação... olhando as minhas próprias fotos. Penso no que eu queria ser, no que sou e no que as pessoas acham que sou - imagens dissonantes de uma mesma coisa.

 

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