Homem-música
Quando chegou, ele era samba
Todo bamba
Fazendo serenata
Tocando gaita e violão
Ela se derreteu
Virou tiete e dançarina
Ouviu tudo e rodopiou
Pelo meio do salão
Ele tocou rock, ska e reggae
Em conversas progressivas
Cada vez mais longas
E sempre com um pop refrão
Ela cantava sempre junto
Nunca gritava “toca, Raul”
Decorava músicas indies
E continuava fã, mesmo na contramão
Ele cantou baião e marchinhas
Que ensaiava todo santo dia
Se desafinava ou errava a letra
Ela dizia “não percebi, não”
Quando ouviu o primeiro blues
Ela ensaiou um chorinho
Pegou a viola e um banquinho
E cantou tudo errado, mas com emoção
Ele começou a fazer shows
Em palcos cada vez mais distantes
Virou pop star, contratou assessor
Esqueceu aquela música lá atrás
Barrada no camarim, ela virou cantora folk
Gravou um clipe e cantou na TV:
“Ele, um dia o melhor dos sambas,
Agora simplesmente jazz”
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