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Pra doido ler

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Uma única tarde


Em uma única tarde eu pensei em muita coisa. E minha cama foi embora. O quarto ficou vazio e me fez pensar que com aquela cama, que morou comigo em quatro apartamentos, estavam indo embora também muitas histórias e energias. Ô. Foi-se. Foram-se. Os pensamentos são assim: vão e vêm. Pois foi nessa mesma tarde cinza que eu pensei, mais uma vez, em escrever um romance e conversei sobre isso com um dos personagens. Ele acha que eu ficaria milionária. Eu disse que é exagero. Mas que eu adoraria realmente escrever tudo exatamente como aconteceu. Ou quase. Só não queria ter vivido tudo aquilo. Sensação louca. Quando penso em tudo como um livro, eu adoro a história. Mas viver as coisas dói na carne e na alma. Dói no osso. Projetos, projetos. Pensei, nessa mesma única tarde, em escrever sobre o Rio. Um conto de carnaval. E para isso tem prazo. Maio. Eu gosto de prazos. Sou estranha. Na mesma tarde, nessa mesma e única tarde, eu dei conselhos importantes e disse que tenho medo de ter filhos. E devo ter dito que "sei lá". Pensei em abraços, longos, silenciosos e demorados. Espero estar perto deles. Mas nisso eu pensei bem pouco. Pensar cansa. E, ao mesmo tempo, estar cansado é estar bem vivo.

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