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Pra doido ler

segunda-feira, novembro 26, 2007

Éramos quantos?


O apelido dela sempre me encantou. "Mãe". Para mim, sua sobrinha-neta, Tia Mãe. Para mim, sua afilhada de batismo, também "Madi", que era como eu a chamava quando bem pequena. O fato é que esse apelido, que ela carrega desde a infância, sempre me encantou.
Mãe. Eu sempre pedia para a minha avó, sua irmã, me contar o porquê desse apelido tão lindo. Minha avó contava que a chamavam assim desde quando ela era bem menina.

O peso do apelido ou simplesmente esse fato de ela ter encarnado ele como se fosse seu próprio nome fizeram dessa Maria uma mãe de muitos. A mais parideira das irmãs teve sete filhos. Viúva muito jovem, cuidou deles como mãe e pai. Perdeu um filho ainda criança. E ontem perdeu seu quarto filho, o último dos homens. O que eu sentia mais próximo de mim. O que eu, sem o pudor que pertence apenas às mães, queria mais bem que aos outros.

Hoje, nesta noite em que minha família se arruma para passar a madrugada velando o corpo de Luís, tudo o que eu queria era estar lá com todos eles. Porque a dor dos que sentem a morte de um parente querido de longe pode não ser maior que a dos que estão perto. Mas é muito particular. É a dor dos que não vão participar do ritual que acaba unindo os que ficam, mesmo que (e exatamente por isso) em um momento tão triste. É a dor dos que vão estar longe naquele momento em que não precisa falar nada. Um abraço resolve tudo. Uma mão afagando os cabelos da mãe que fica basta.

Tudo o que eu queria era estar com a minha madrinha. Para poder dizer pra ela que mais que uma mãe, eu sei que ela é a Mãe. A Mãe para quem a vida não precisa mais ensinar o que é velar o corpo de um filho morto.

De Luís eu guardo a melhor lembrança. Ele, que dizia no seu sorriso tão bonito o quanto gostava de mim, dos meus pais, dos meus avós, das minhas irmãs, da minha tia, da minha sobrinha. Ele, que sempre fazia piada de tudo. Ele, que me dava abraços sempre tão apertados e tão carinhosos. De Luís eu guardo o que há de melhor. E, mesmo ausente ao lado dos seus, nesse dia tão triste, eu sofro, de longe, junto com todos eles.

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