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Pra doido ler

quinta-feira, agosto 24, 2006

Augusta



Tentou se perder, mas se encontrou na Augusta. Queria esquecer tudo. Tudo que vivera até ali, mas acabou na Augusta. Ninguém acaba assim em vão. E, na verdade, quem acaba por ali, ali começa.
Lugar ideal para começar outra história, descendo a rua vadia e mundana. Vadia e mundana a rua. Vadia e mundana ela.
Se a Paulista é sua praia, ela pensava – “sempre fora!” -, a Augusta é como se fosse o seu rio. Rio cujo leito vai desembocar no centro e que, como todo leito, desloca a água e os sedimentos. Excrementos de gente e de coisas. Um rio cheio de piranhas, e de criaturas da noite e do dia.
Alguém seria capaz de mensurar o prazer que a ela dá o simples ato de descer aquela rua? Ou subir alguns pequeninos trechos, no sentido bairro-centro, sempre, sempre, sempre nesse sentido? O melhor, sempre o melhor, porque é única a sensação de estar deixando para trás o luxo e indo loucamente em direção ao lixo.
Pedaço de uma cidade cheia de pedaços – “pedaços exilados de mim?”, ela pensava – essa rua tem cheiro e gosto diferentes. Em cada boteco de cada esquina, ali é como estar livre e leve. É como esperar tudo e nada esperar. Uma rua que urge, assim como a vida.
Se alguém já subiu essa rua a 120 por hora, ela só quer subir no seu passo acelerado, mas sempre e sempre a pé. Porque é assim, caminhando e fazendo de cada canto o seu caminho, que ela sente que a Augusta a pertence cada vez mais. Se entre a Augusta e a Angélica, encontrou-se a Consolação, é nela, nessa Augusta mesmo, começo e fim de tudo, que ela encontra alento. Nenhuma resposta, mas muito alento. Se não muito sempre, um pouco a cada vez que nessa rua ela pisa.

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